Q10 – Os professores são todos iguais?
Em 2012, verifica-se, na generalidade dos países, que os salários dos professores do 3º ciclo do ensino básico são inferiores à média dos salários auferida por outros profissionais licenciados inseridos na função pública. Na República Checa, um dos países com resultados PISA a rondar os 500 pontos, os professores recebem apenas pouco mais de metade do salário dos seus pares licenciados, que exercem outras profissões dentro da função pública. No lado oposto, em Portugal e Espanha, os professores recebem entre 20 a 30% mais do que os restantes licenciados.
Já se olharmos para o valor absoluto dos salários, medidos em dólares ($) e transformados em relação ao poder de compra (PPC), é a Dinamarca que oferece os salários iniciais mais elevados (cerca de $45 000), embora estes se mantenham bastante estáveis ao longo de toda a carreira. A Irlanda ($62 000) e a Holanda ($55 000) são os que oferecem maior ordenado no final da carreira. Portugal e Espanha também apresentam uma grande disparidade entre professores em fim de carreira e os restantes, sinalizando um período de aumentos no passado que provavelmente não se repetirá para as gerações mais jovens, que têm tido os salários congelados há mais de uma década. Finalmente, na República Checa e na Polónia, a remuneração dos professores nunca chega a atingir os $20 000 (PPC), valor muito abaixo do salário inicial em qualquer um dos outros países considerados.
Em 2012, os professores portugueses são os que mais acusam excesso de trabalho, declarando em média que trabalham mais de 40 horas por semana. Embora o número médio de horas letivas por semana seja cerca de 18, em linha com os restantes países, o tempo despendido a preparar aulas e a dar feedback aos alunos é maior, 14 horas por semana. A burocracia e tarefas administrativas ocupam uma média de 5 horas, sendo este valor semelhante em todos os países considerados.
Há ainda uma elevada percentagem de professores, em Portugal, que se sentem muito pouco reconhecidos no local de trabalho. Em 2012, 26% dos professores declararam nunca ter sido reconhecidos de forma alguma pelo seu trabalho e 48% afirmam que, no geral, os professores são pouco respeitados pela sociedade. Esta situação é muito mais grave em Espanha, onde 45% dos professores declaram nunca ter recebido nenhum reconhecimento pessoal e 62% considera que é uma profissão pouco respeitada na sociedade.
O TALIS (Teacher and Learning International Survey) fez uma série de perguntas aos professores para identificar a sua visão sobre disciplina em sala de aula, com perguntas que visavam compreender o tempo que o professor espera até começar a aula, a quantidade de interrupções e o nível de barulho durante as aulas.
É na Irlanda e na Polónia que a disciplina em sala de aula é mais reportada pelos professores. Na Dinamarca, os professores mais jovens revelam alguma preocupação com o comportamento dos alunos, mas esse problema parece desvanecer-se entre os professores mais velhos.
Existem três países, Espanha, Dinamarca e Polónia, onde o reporte de disciplina em sala de aula aumenta à medida que os professores envelhecem. No entanto, em Espanha, os níveis de disciplina são sempre negativos. A Irlanda e Portugal têm o padrão inverso dos três países referidos, o envelhecimento dos docentes conduz a um reporte mais acentuado de indisciplina, particularmente em Portugal onde os professores acima dos 50 anos reportam níveis muito baixos de disciplina. Esta questão deve ser encarada com muita atenção, dado o envelhecimento do corpo docente. Em 2012, 34% dos professores portugueses tinham mais de 50 anos, sendo que em 2015, essa percentagem aumentou para 39%.
Em 2012, em Portugal, os professores estão claramente acima da média no que se refere ao tempo utilizado a dar aulas expositivas. Apenas os professores irlandeses declaram utilizar ainda mais este tipo de metodologia. Já no que se refere a aulas baseadas em projetos e outras atividades, onde o aluno é mais ativo, tanto Portugal como a Irlanda têm indicadores abaixo da média TALIS. Curiosamente, em Espanha, os professores declaram ser mais práticos que teóricos, mas é na Dinamarca que o índice de atividades centradas em aulas práticas e projetos é mais elevado. Já na Polónia, parece existir um equilíbrio entre estes dois tipos de metodologias. É interessante verificar que não há grandes diferenças entre os grupos etários e os professores tendem a seguir, dentro do seu país, as metodologias adotadas pelos colegas.
Os índices resultam do nível de concordância com:
(no gráfico acima)
TPSTRUCT: rever trabalhos de casa; verificar se os alunos conhecem processos e procedimentos; rever a aula anterior; avaliar e refletir sobre o trabalho dos alunos e especificar claramente os objetivos.
TPACTIVE: projetos; elaboração de materiais pelos alunos para serem utilizados por outros; escrever ensaios e composições e participar em debates.
(no gráfico seguinte)
CCLIMA: tempo de espera para iniciar a aula; bom ambiente de aprendizagem; interrupções da aula e barulho.
SELFEF: fazer diferença na vida dos estudantes; conseguir que os estudantes difíceis progridam; ser bem-sucedido com os seus alunos e chegar aos alunos.
TSRELAT: alunos e professores relacionam-se bem; o bem estar dos alunos é importante; interesse no que os alunos têm para dizer e quando um aluno necessita de ajuda a escola proporciona.
A satisfação com a profissão e o respeito que sentem por parte da sociedade são pontos críticos no exercício da profissão. Portugal é o país que tem maior percentagem de professores insatisfeitos (13%).
Ao recorrer a uma regressão linear múltipla para tentar explicar quais os fatores que levam a professores mais satisfeitos e respeitados, foram identificadas apenas 3 variáveis: sentir que os alunos aprendem e que fazem a diferença; ter um bom relacionamento com os alunos e, finalmente, conseguir controlar o comportamento em sala de aula. Este foi um padrão comum a todos os países. Variáveis como anos de serviço, idade, reconhecimento formal, utilização de diversos tipos de pedagogia e número de horas de trabalho semanal mostraram-se irrelevantes. Quanto mais os professores se sentem úteis aos alunos e consideram que os ajudam a aprender, mais se sentem satisfeitos e respeitados. Apenas na Dinamarca, é o bom relacionamento com os alunos que mais pesa. A capacidade de manter a disciplina em sala surgiu como um fator menos relevante.