Todas as análises realizadas no âmbito do projeto aQeduto baseiam-se nos resultados obtidos na prova cognitiva e na informação de contexto recolhida através de vários questionários (aos alunos, à escola e aos pais) nos vários ciclos (2000, 2003, 2006, 2009 e 2012) do estudo PISA.
Conforme descrito detalhadamente na apresentação do projeto aQeduto (http://www.aqeduto.pt/apresentacao/) em todos os seus estudos, Portugal é comparado com dez países europeus que foram selecionados de acordo com semelhanças e diferenças em cinco critérios considerados relevantes para este trabalho.
Como já foi referido noutros estudos deste projeto, as comparações temporais entre os resultados PISA apresentados incidem em 2003 e 2012, por se tratarem ambos de ciclos cujo domínio principal foi a Matemática e pela semelhança entre os respetivos questionários de contexto.
Por outro lado, o estudo PISA analisa os dados das escolas que os alunos de 15 anos podem frequentar: Escolas básicas que terminam no 3º Ciclo ou Escolas Básicas e Secundárias ou Escolas Secundárias. Deste modo, neste estudo (Q6) vamos olhar para as Escolas Básicas e Secundárias pois só nestas escolas podemos analisar alunos de 15 anos quer com um percurso académico de sucesso quer com um percurso académico de insucesso.
Como já foi referido em estudos anteriores (ver Q5), os resultados apresentados ao nível das escolas da amostra PISA devem ser olhados com prudência.
Percentagem de alunos que consideram existir barulho e desordem na sala de aula. PISA Matemática 2003 e 2012
Na maioria dos países em análise, entre 2003 e 2012, as respostas dos alunos mostram uma diminuição da indisciplina em sala de aula. As grandes exceções são a Finlândia, a França, a Holanda e a Suécia, onde se verifica uma tendência para o agravamento destes problemas, registando-se simultaneamente uma descida dos scores PISA Matemática. Por sua vez, em Portugal e na Polónia, as respostas dos alunos indicam uma redução da indisciplina, concomitante com a melhoria dos resultados PISA, entre 2003 e 2012.
Ao contrário da perceção dos alunos, em 2012, 54% dos diretores portugueses consideraram a indisciplina prejudicial à aprendizagem, revelando assim um grande aumento em relação a 2003 (35%). Apenas a Finlândia regista uma evolução semelhante a Portugal; enquanto em todos os outros países há menos diretores a reportar este problema. Tendência semelhante se observa para as faltas de respeito, embora de forma menos acentuada. Na República Checa, Polónia e Espanha é onde, em 2012, existe maior convergência entre a visão dos alunos e a dos diretores. Já em França, há um acentuado grau de desfasamento de opiniões, sendo que os alunos consideram existir mais indisciplina.
Relação entre dimensão das turmas e clima disciplinar reportado pelos alunos. PISA 2012
Neste gráfico, observa-se o valor de um índice de clima disciplinar (Disciplinary Climate) e a dimensão média das turmas em cada país. Portugal apresenta um clima disciplinar médio (índice nulo) e turmas com dimensão média de 22 alunos. A República Checa, Polónia e Irlanda revelam um bom clima disciplinar e turmas de dimensão média (22, 23 alunos), enquanto que a Finlândia apresenta um mau clima disciplinar, embora com turmas médias pequenas (18 alunos). A França também evidencia um mau clima disciplinar, mas com turmas médias grandes (27 alunos).
Turmas pequenas não parecem, pois, ser sinónimo de bom clima disciplinar.
Relação entre “capacidade do professor manter a ordem” e “ambiente disciplinar” na sala de aula, segundo os alunos. PISA 2012
Esta representação em teia mostra que os alunos reportam, em todos países, que quando a capacidade do professor para manter a ordem é muito boa, existe um bom clima disciplinar; se essa capacidade é boa, existe um clima disciplinar médio; se essa capacidade é razoável, existe um clima disciplinar fraco e, finalmente, se essa capacidade é insuficiente, existe um clima disciplinar muito fraco. Isto é, o clima disciplinar das turmas parece estar fortemente relacionado com a capacidade do professor para manter a ordem.
Percentagem de atrasos segundo os alunos. PISA 2012
Apenas na Suécia e em Portugal existem menos de 50% de alunos que dizem nunca se atrasar.
Percentagem de problemas de violência e agressividade entre estudantes, segundo os diretores. PISA 2012
Mais de 50% dos diretores de todos os países reportam estes problemas pelo menos ocasionalmente. Em Portugal, 52% reportam casos ocasionais e 9% frequentemente. Na Suécia, Luxemburgo, Irlanda, Holanda e Finlândia muitos diretores mostram-se preocupados com estes problemas (mais de 80%).
Percentagem de alunos e diretores que admitem existir ajuda suficiente por parte dos professores. PISA 2012
Em 2012, no conjunto dos vários países, a maioria dos alunos é da opinião de que os professores os ajudam. Portugal e Finlândia lideram a satisfação com a ajuda prestada pelo corpo docente (83% e 85%, respetivamente). Espanha, França e Luxemburgo são os países onde menos alunos sentem ter esse apoio. Todavia, cerca de 65% consideram que os professores os ajudam. Por outro lado, os diretores tendem a exprimir uma opinião ainda mais favorável, à exceção da Holanda, onde 71% declaram que os professores não ajudam suficientemente os alunos. É também neste país que se verifica uma maior discrepância entre a opinião dos alunos e a dos diretores.
Resultados por distribuição das repostas dos alunos “Os professores ajudam os alunos?”. PISA Matemática 2012
Resultados médios por percentagem de concordância dos alunos com a questão “Os professores estão interessados?”. PISA Matemática 2012
Percentagem de respostas à questão “Os professores ouvem os alunos?” e diferença entre os scores dos alunos que concordam totalmente ou discordam totalmente. PISA 2012
Relação entre bom relacionamento com os professores e alunos felizes na escola. PISA 2012
A nível agregado, verifica-se também uma correlação entre existir um bom relacionamento com os professores e os alunos sentirem-se felizes na escola. Em 2012, os alunos portugueses foram os que mais consideraram ter um bom relacionamento com os professores (86%) e cerca de 25 % sentiam-se felizes na escola.
É curioso verificar que, na Finlândia, embora os alunos considerem ter apoio dos professores (85%), poucos são os que dizem estar felizes na escola (10%) ou que dizem ter um bom relacionamento com os docentes (43%). Por outro lado, a Polónia e a Holanda são os países onde menos alunos consideravam existir um bom relacionamento com os professores (apenas 35%) e os alunos espanhóis são os que mais se consideravam felizes na escola (cerca de 35%).
Scores médios dos alunos vs infelizes na escola. Percentagem de alunos infelizes. PISA Matemática 2012
Em 2012, os alunos mais felizes são os que têm, em média, os melhores resultados em PISA Matemática, sugerindo uma correlação entre boas aprendizagens e alunos felizes na escola. Exceção para a Polónia onde a diferença nos scores é insignificante.
Em Portugal, a diferença de resultados entre alunos felizes e infelizes é na ordem dos 30 pontos, uma das maiores entre os países considerados. Na Polónia, Finlândia e República Checa registam-se mais de 30% de alunos infelizes na escola, apesar de os seus resultados médios a matemática serem elevados (518, 519 e 499, respetivamente). Espanha, Portugal, Dinamarca e Suécia são os países onde menos alunos dizem estar infelizes na escola, embora ainda se observem entre 13% e 15% de alunos infelizes.
ESCS, scores médios e percentagem de alunos infelizes por escola. PISA 2012
Há uma maior prevalência de alunos infelizes em escolas onde tanto o Estatuto Socioeconómico e Cultural (ESCS) como os scores PISA Matemática são baixos. Em 50% das escolas inseridas em meios desfavorecidos e com piores resultados, há mais de 15% de alunos infelizes. Das escolas com resultados melhores, mas ESCS igualmente baixo, apenas 35% têm mais de 15% de alunos infelizes. Este padrão observa-se em apenas 25% das escolas cujo meio é mais favorável e os resultados são melhores.
– A área dos círculos representa a percentagem de alunos infelizes por escola.
– Foram analisadas apenas as escolas que têm conjuntamente 3ª ciclo do ensino básico e secundário, em virtude do desenho da amostra: alunos de 15 anos que estão pelo menos no 3º ciclo do ensino básico. Estes são os casos em que, com maior rigor, se consegue medir a influência da escola no percurso escolar dos alunos, dado que é provável que frequentem o mesmo estabelecimento de ensino desde o 7º ano de escolaridade.
– Escolas de resultados “Acima do esperado” – Escolas cujos resultados médios são acima de 500 e o ESCS é inferior à média da OCDE
– Escolas de resultados “Esperado negativo” – Escolas cujos resultados médios são abaixo de 500 e o ESCS é inferior à média da OCDE
– Escolas de resultados “Esperado positivo” – Escolas cujos resultados médios são acima de 500 e o ESCS é superior à média da OCDE
Percentagem de alunos que se sentem postos de parte e respetivo score. PISA Matemática 2003 e 2012
Percentagem de diretores que afirmam ser a existência de turmas “com níveis de aprendizagem heterogéneos” e “com diversidade cultural e linguística” entraves à melhor aprendizagem. PISA 2012
Visão dos diretores em relação ao ambiente por expetativa de resultados das escolas. PISA Matemática 2012
Os diretores das escolas onde o ESCS é mais baixo e os resultados são também baixos (466) reportam maiores preocupações com o ambiente da escola. Preocupações com muita indisciplina ocorrem em 20% destas escolas e 11% consideram a falta de respeito um impedimento às aprendizagens. De notar que mais de 14% destes diretores referem o consumo de drogas (8% algum e 6% muito). O relacionamento entre professores e alunos não é fácil, 10% reconhecem-no, e a percentagem de alunos que veem as suas necessidades não satisfeitas é também o mais alto das escolas com diferentes expetativas de resultados (25%).
No polo oposto, situam-se as escolas inseridas em meios mais favorecidos, onde os desempenhos são elevados (543). Apenas 26% destas escolas indicam a existência de indisciplina a níveis moderados e 7% referem-se a alguma falta de respeito. Finalmente, as escolas inseridas em meios desfavoráveis, mas com bons resultados (517), indicam a indisciplina moderada como maior problema (50%). O consumo de drogas (5%) e a agressividade entre alunos (3%) aparentam estar controlados nestas escolas.