Todas as análises realizadas no âmbito do projeto aQeduto baseiam-se nos resultados obtidos na prova cognitiva e na informação de contexto recolhida através de vários questionários (aos alunos, à escola e aos pais) nos vários ciclos (2000, 2003, 2006, 2009 e 2012) do estudo PISA.
Conforme descrito detalhadamente na apresentação do projeto aQeduto (http://www.aqeduto.pt/apresentacao/) em todos os seus estudos, Portugal é comparado com dez países europeus que foram selecionados de acordo com semelhanças e diferenças em cinco critérios considerados relevantes para este trabalho.
As comparações temporais apresentadas neste estudo (Q3) são feitas entre os ciclos de 2003 e 2012 por se tratarem ambos de ciclos cujo domínio principal foi a Matemática, e também pela semelhança entre os questionários de contexto aplicados. Em 2000, registam-se ainda algumas pequenas diferenças nos critérios de seleção da amostra.
As mães são quase sempre consideradas como representantes da família por dois motivos: i) quase todos os alunos vivem com a mãe (em Portugal, 96,9%) e cerca de 13% vivem só com a mãe e sem o pai; ii) nos agregados bi-parentais a associação entre os indicadores de escolaridade (φ ==.9) e de profissão entre mãe e pai é muito grande, i.e., os casamentos tendem a acontecer entre pessoas com nível de escolaridade/profissional semelhante.
Relação entre a percentagem de mães com escolaridade não superior ao 9º ano e scores PISA 2012.
Em Portugal verificava-se, em 2012, um grande atraso na escolarização das mães dos alunos de 15 anos em relação aos seus pares europeus. Mais de 50% das mães estudaram até ao 9º ano ou menos, ao passo que em Espanha esta percentagem era apenas de cerca de 25%. De notar que a relação entre resultados acima do score de referência (500) e o nível de escolaridade das mães é apenas clara quando quase todas as mães (90%) têm mais que o 9º ano.
Percentagem de mães e pais com formação não superior ao 9º ano. PISA 2003 e 2012.
No caso de Portugal, em 2003, mais de 60% (pais ou mães) tinham o 9º ano de escolaridade ou menos e não se regista uma diminuição significativa desta percentagem em 2012. No caso das mães este cenário melhorou, mas a percentagem de mães com o 9ºano ou menos continua a ser de 55%. Em quase todos os países é maior a percentagem de homens menos escolarizados, sendo que em todos se tem vindo a progredir. Em 2012, a Dinamarca, Suécia, Polónia, Finlândia e República Checa tinham menos de 10% de mães com qualificações iguais ou inferiores ao 9º ano.
Percentagem de casais e alunos estrangeiros. Score a matemática quando ambos os pais são estrangeiros vs nativos. PISA 2012.
Em 2012, o país com maior número de imigrantes era o Luxemburgo, onde 45% dos estudantes vinham de famílias onde o pai e mãe são estrangeiros. Este foi também o país que recebeu maior número de alunos nascidos noutros países. Contrariamente, a Polónia não recebe praticamente nenhum imigrante e Portugal tinha cerca de 7,5% de estudantes provenientes de famílias estrangeiras, sendo um dos países com menor percentagem.
No gráfico, as bolas representam o score PISA médio a matemática de alunos que vêm de famílias estrangeiras (laranja) e a média dos alunos que têm pelo menos um dos pais nascido no respetivo país (azul). Na Suécia e na Irlanda, por exemplo, verifica-se que não há qualquer diferença na média dos scores, tendo ambos os países, respetivamente, cerca de 15 e 10% de emigrantes. Em Portugal, essa diferença ascende a mais de 40 pontos. Tal como em Portugal, também nos outros países se verifica que existe uma diferença nas médias dos scores, tendo sido os filhos de pais estrangeiros que apresentaram piores desempenhos.
Percentagem de alunos por nível de proficiência de acordo com a idade da mãe na altura do nascimento do filho. Portugal, PISA2012.
Em Portugal, 7% dos alunos que participaram no teste PISA Matemática 2012 eram filhos de mães jovens que nasceram quando estas tinham menos de 21 anos. Quase 70% destes alunos apresentam níveis de desempenho iguais ou menores que 2. Os filhos de mulheres que foram mães entre os 21 e os 25 anos, tendem também a ter resultados mais baixos no PISA , embora de uma forma menos acentuada. Os restantes grupos etários apresentam distribuições semelhantes.
Desempenho a Matemática por nível de escolaridade das mães. PISA Matemática 2012.
Os jovens cujas mães têm o 9º ano ou menos alcançam scores médios PISA sempre inferiores (bolas azuis). Os filhos de pais com ensino superior têm sempre médias mais altas. No entanto, em 2012, a maioria das mães em vários países tem formação superior (nível de escolaridade representado pela área dos círculos). Na Polónia e na República Checa a maioria das mulheres tem formação ao nível secundário. Em Portugal a maioria das mães tem o 9º ano de escolaridade ou menos.
Nível de escolaridade das mães e scores médios a Matemática. Portugal, PISA Matemática 2003 e 2012.
Em Portugal, entre 2003 e 2012, registou-se uma evolução relativamente ao nível de escolaridade das mães, especialmente nos primeiros ciclos de ensino. Em 2003, a percentagem de mães que tinham no máximo o 6º ano de escolaridade estava muito próxima dos 50%, ao passo que em 2012 esta percentagem diminuiu para cerca de 30%. Pouco mudou nos níveis mais elevados, sendo que a percentagem de mães com formação superior se manteve constante neste período, cerca de 20%. Porém, e embora a percentagem de mães com formação superior se tenha mantido, observa-se que os seus filhos passaram de uma média de 494 pontos em 2003 para 535 em 2012. Evolução semelhante não se verificou para patamares mais baixos de escolaridade das mães.
Relação entre a percentagem de mães com nível de escolaridade igual ou inferior ao 9º ano e scores a Matemática. PISA Matemática 2003 e 2012
Entre 2003 e 2012, em Portugal, a diminuição da percentagem de mães com escolaridade muito baixa coincide com o aumento do score PISA agregado do país. No entanto, esta tendência não se verifica em mais nenhum outro país. Não se poderá por isso afirmar que a relação entre o aumento do nível de escolaridade das mães e o desempenho dos alunos de 15 anos no PISA 2003 e 2012 é evidente.
Na Irlanda e Espanha os níveis de escolaridade das mães aumentaram, mas os resultados PISA não melhoraram. Nos casos da Holanda, França e Finlândia, assistiu-se nomeadamente a uma acentuada melhoria da escolaridade das mães, mas a uma redução nos scores PISA.
Curvas de distribuição dos scores e nível de escolaridade das mães. Portugal, PISA 2012.
Tendencialmente os filhos cujas mães tiveram acesso a formação superior têm melhores resultados. No entanto, as zonas de sobreposição são bastante acentuadas
Níveis de proficiência a Matemática por setor de atividade e nível de escolaridade das mães. Portugal, PISA Matemática 2012.
Apesar dos níveis de escolaridade e da tipologia da profissão isoladamente serem relevantes, é a conjugação destes que efetivamente se associa ao nível de desempenho dos alunos. Assim, os filhos de trabalhadoras do setor I e II têm desempenhos similares, independentemente da escolaridade da mãe, sendo que cerca de 60% dos alunos não atingem o nível 3. Por outro lado, no caso de filhos cujas mães estão ligadas ao setor terciário e que têm até ao 9º ano, são cerca de 50% os que não atingem este nível. No caso de as mães terem concluído o 12º ano ou mais, esta percentagem baixa para cerca de 25%.
Percentagem de famílias em que ambos os pais trabalham a tempo inteiro e de famílias e que pelo menos um dos pais trabalha a tempo parcial. PISA Matemática 2012
No que respeita ao equilíbrio família-emprego, o número de horas ocupadas a trabalhar revelou-se uma variável interessante. Temos países onde a maioria dos pais (ambos) trabalha a tempo inteiro, e vários outros onde esta modalidade é menos popular. Em Portugal, cerca de 55% dos pais têm empregos a tempo inteiro, ao passo que na Holanda, 75% dos pais (pelo menos um) têm empregos a tempo parcial. Só no Luxemburgo e na Holanda é que os resultados PISA dos filhos de quem trabalha a tempo parcial são melhores, embora a diferença seja pouco acentuada. Em todos os outros países, os melhores resultados surgem no seio de famílias em que ambos trabalham a tempo inteiro. No caso de Portugal, esta diferença é de 43 pontos, a mais acentuada entre os pares.
Estrutura do agregado familiar. PISA 2012.
Em todos os países perto de 100% dos jovens vivem com a mãe e apenas a Polónia apresenta uma percentagem ligeiramente inferior. Relativamente à percentagem de jovens de 15 anos que vivem com o pai, esta varia entre os 80 e 90%, sendo que em Portugal é de 87%. No que respeita à presença dos avós no agregado familiar, Portugal ocupa um lugar cimeiro em relação aos pares: mais 20% das famílias.
Diferença entre scores Matemática por estrutura de agregado familiar. PISA Matemática 2012
A presença de irmãos e a ausência dos pais no agregado familiar dos alunos pouco se associa aos resultados no PISA Matemática 2012. No entanto, quando os alunos vivem num agregado familiar alargado existe uma associação com resultados mais baixos. No caso de Portugal, por exemplo, representa uma desvantagem de perto de 40 pontos, apenas superada pela Suécia e pela Holanda, embora nestes países sejam poucos os alunos que vivem esta realidade.
Indicadores de conforto na casa e resultados a Matemática. PISA Matemática 2012
Ao fazer uma análise de indicadores de conforto, verifica-se que o número de casas de banho e a percentagem de estudantes que têm um quarto só para si são os mais relevantes. No entanto, é curioso verificar como estes indicadores estão fortemente ancorados em tradições locais e acabam por não ser tão comparáveis entre si. Por exemplo, na Holanda, que tem um ESCS acima da média (0,2), apenas 20% dos agregados familiares têm duas casas de banho, à medida que em Portugal, muito abaixo da média, 60% dos agregados têm duas ou mais casas de banho. A Irlanda é o país onde 75% têm duas casas de banho e onde 90% dos alunos têm um quarto só para si.
Na Holanda, Dinamarca e Suécia quase 100% dos estudantes têm um quarto só para si. Em Portugal, são cerca de 80% com quarto individual e apenas a República Checa apresenta uma percentagem inferior.
Relativamente ao impacto destes indicadores de riqueza nos desempenhos PISA verifica-se que na Suécia, Luxemburgo, França e Dinamarca não ter quarto individual é um fator determinante, que resulta em diferenças de scores na ordem dos 60 pontos. Contudo, em Portugal, ter um quarto só para si é pouco relevante, apontando para uma diferença de apenas 20 pontos. Por sua vez, quando há um número inferior de casas de banho verifica-se uma diferença média de 35 pontos.
Percentagem de agregados familiares com computador, internet e três ou mais telemóveis.
Regularidade com que os pais desempenham diversas tarefas e resultados a Matemática. Portugal, PISA Matemática 2012.
Todos os pais afirmam jantar e conversar todos os dias com os filhos, verificando-se uma associação entre os pais que afirmam não o fazer e resultados PISA mais baixos. Quanto à ajuda que os pais disponibilizam para os trabalhos de casa, cerca de 45% dizem que raramente o fazem e apenas 30% afirmam um acompanhamento diário. No entanto, verifica-se que os filhos que nunca são acompanhados são os que têm melhores resultados. Os trabalhos de casa de matemática parecem ter um acompanhamento especial por parte dos pais e esse estar associado a melhores desempenhos.
Interessante verificar que os filhos de pais que afirmam estar diariamente atentos a todos os parâmetros questionados se encontram sempre na fasquia dos 500 scores.
Expectativas das mães quanto à escolaridade dos filhos. Portugal, PISA 2012.
Independentemente do nível de escolaridade das mães, a maioria tem a expectativa que o filho frequente o ensino superior. No caso das mães com o nível de escolaridade mais baixo considerado, são cerca de 53% as que também tem essa expectativa para os filhos.
Percentagem de pais que participam em diversas atividades na escola. PISA 2012.
Os dados a nível agregado mostram que em todos os países a principal motivação para ir à escola é o progresso e o comportamento dos filhos. É em Espanha e Portugal que os pais mais vão à escola, maioritariamente por iniciativa da escola, embora em alguns casos por iniciativa própria. Na Dinamarca e Suécia é onde mais pais são chamados por questões de progresso. Na Irlanda é onde menos pais vão à escola.
Percentagem de pais que participam na vida escolar, excluindo progresso e comportamento. PISA 2012.
Na Dinamarca é o voluntariado em atividades extracurriculares que mais motiva os pais para participar na vida escolar, o que é curioso uma vez que a grande maioria dos pais trabalha a tempo inteiro. Em contrapartida, na Holanda, onde a maioria trabalha em tempo parcial, a participação na escola é a mais reduzida de todos os países considerados. Portugal é dos países com menos participação nas atividades consideradas e esta divide-se entre atividades extracurriculares e órgãos de gestão.
Opinião dos pais sobre diversos aspetos da escola (% por categoria). Portugal, PISA 2012.
No geral, todos os pais portugueses consideram que a escola faz o seu trabalho e cumpre a sua missão. Quando questionados sobre diversos aspetos desta instituição, quase todos se mostraram satisfeitos ou muito satisfeitos. Apenas 4% dos pais estão insatisfeitos com os professores e os problemas com a disciplina ocupam o segundo lugar na insatisfação (12%). Relativamente ao grau de exigência elevado, 16% dos pais discordam. No entanto, é curioso verificar que há uma associação entre esta opinião e desempenhos fracos dos seus filhos (cerca de 470 pontos).
Percentagem de contribuição dos diversos aspetos dos pais para os desempenhos dos filhos. Portugal, PISA 2012.
A história dos pais está evidentemente ligada à dos filhos, mas não é determinante. A capacidade de esta explicar a variação dos desempenhos é de cerca de 23%. Dessa contribuição, por exemplo, 22% é da responsabilidade do estatuto profissional; 13% da riqueza doméstica; 10% provém da educação dos pais. Outras variáveis têm também um contributo positivo, embora menor, como é o caso dos recursos educativos em casa (7%), dos alunos serem nativos (5%), da perceção da qualidade da escola (3%) e, ainda, das posses de bens culturais (3%). Os resultados PISA tendem a ser mais baixos quando a mãe é muito jovem (-7%) ou quando a habitação é partilhada por um agregado familiar mais alargado (-4%), i.e., não é apenas pai, mãe e filhos.
Resultados obtidos através de uma análise de regressão linear multivariada em blocos.