Q2 Dados

Q2 – Chumbar melhora as aprendizagens?

Evolução dos chumbos

Metodologia

Todas as análises realizadas no âmbito do projeto aQeduto baseiam-se nos resultados obtidos na prova cognitiva e na informação de contexto recolhida através de vários questionários (aos alunos, à escola e aos pais) nos vários ciclos (2000, 2003, 2006, 2009 e 2012) do estudo PISA.

Conforme descrito detalhadamente na apresentação do projeto aQeduto (http://www.aqeduto.pt/apresentacao/) em todos os seus estudos, Portugal é comparado com dez países europeus que foram selecionados de acordo com semelhanças e diferenças em cinco critérios considerados relevantes para este trabalho.

Neste estudo (Q2), sempre que incidimos a análise nos resultados dos alunos nos estudos PISA, apresentamos os resultados na avaliação PISA 2012, cujo domínio principal é a Matemática, por serem os resultados disponíveis mais recentes.

Evolução da percentagem de aluno que chumbaram pelo menos uma vez.

A Europa está claramente dividida entre os países onde se chumba muito (Holanda, França, Espanha, Portugal e Luxemburgo) e os países onde quase não se chumba (Finlândia, Suécia, Polónia, Dinamarca, República Checa e Irlanda).

Portugal faz parte dos que chumbam muito e, em 2012, cerca de 35% dos alunos com 15 anos já chumbaram pelo menos uma vez. Portugal e Espanha são os únicos países que viram a sua percentagem aumentar de cerca de 30% em 2003 para perto dos 35% em 2012, tendo-se atingido um pico em 2009. França destaca-se pelo facto de a percentagem de alunos que ficam retidos estar a diminuir, assistindo-se a uma queda acentuada: de 40% em 2003, 37% em 2009 para 28% em 2012.

Percentagem de alunos que chumbaram pelo menos uma vez por nível de ensino. PISA 2012.

Para além de ser o país onde mais se chumba, Portugal é também o país que mais chumba no início do percurso escolar: 23% dos alunos repetiram pelo menos uma vez até ao 6º ano e 20% chumbaram no 3º ciclo. Espanha surge logo depois de Portugal, mas prefere adiar esta medida para o 3º ciclo, apresentando relativamente poucos chumbos nos primeiros anos, compensando nos anos seguintes. Na Holanda os alunos repetem nos primeiros anos, mas essa percentagem diminui no 3º ciclo.

Percentagem de chumbos por scores PISA Matemática 2012.

Nos países onde se chumba pouco (Finlândia, Polónia, Dinamarca, República Checa) os resultados estão na média ou acima da média. Nos países onde se chumba mais (França, Luxemburgo, Portugal, Espanha) os resultados estão abaixo da média. No entanto, chumbar muitos alunos não significa obrigatoriamente uma fraca prestação média nos testes PISA. Na Suécia, onde praticamente não se chumbam alunos, os resultados globais estão abaixo da média de 500. Na Holanda, onde se chumba mais, os resultados médios são francamente bons.

Quem são os alunos que chumbam?

Relação entre o estatuto socioeconómico e cultural e scores PISA Matemática 2012. Alunos que chumbaram vs que não chumbaram.

Em Portugal, chumbar o ano está fortemente associado com o Estatuto Socioeconómico e Cultural (ESCS) das famílias. Se observarmos o gráfico, 87% dos alunos que chumbam vêm de famílias de estratos sociais, económicos e culturais abaixo da média. Do mesmo modo, estes alunos obtêm classificações no teste PISA Matemática 2012 também inferiores à média de referência (500) e mesmo inferiores à média portuguesa de 487. Ainda mais preocupante é verificar que dos alunos que chumbam apenas 40% conseguem resultados PISA iguais ou superiores ao nível 3 (482,4); ao passo que de entre os alunos que nunca chumbaram este número cresce para 74,5%.

Percentagem de alunos com um ESCS abaixo da média da OCDE que repetiram o ano pelo menos uma vez e scores PISA Matemática 2012

Portugal é de todos os países da Europa aquele que mais associa chumbar com um baixo estatuto socioeconómico e cultural da família. Na Holanda, sendo um país onde chumbar é uma prática corrente, existe praticamente paridade de chumbo entre classes sociais mais e menos abastadas. As escolas portuguesas parecem estar a ser incapazes de fazer um trabalho de nivelamento de oportunidades, principalmente se nos lembrarmos que é até ao 6º ano que a maioria dos chumbos acontece.

Percentagem de alunos que chumbaram por género. Portugal PISA 2012

Em Portugal, os rapazes são quem mais chumba. EM 2012, 39% da percentagem dos alunos que chumbaram são rapazes e 39%, raparigas.

Percentagem de mães com formação igual ou inferior ao 9º ano. Alunos que chumbaram/não chumbaram. PISA 2012.

72% das mães dos alunos que chumbam tem formação inferior ao 9º ano, ao passo que no caso das mães dos alunos que nunca chumbaram este número reduz para 47%. Em todos os países a formação das mães dos alunos que chumbam é mais baixa do que o mesmo indicador para os pares. No entanto, em nenhum outro país existe uma diferença tão acentuada como em Portugal.

Percentagem de alunos que chumbaram por língua falada em casa. PISA 2012

Em Portugal apenas 2,6% dos alunos falam uma língua diferente de português em casa. Dos alunos que falam uma língua diferente da do teste 38,3% chumbam, comparado com os alunos que falam português em casa dos quais chumbam 33,7%, o que significa que não falar a língua do teste está associado a uma percentagem de chumbos ligeiramente superior, embora seja um problema pouco expressivo no quadro nacional a nível agregado.

Percentagem de alunos que chumbaram por tipologia de agregado familiar. PISA 2012.

Microsoft_Excel_2013Download Excel

Percentagem de alunos que chumbaram e que nunca chumbaram por frequência no pré-escolar. Portugal PISA 2012.

Microsoft_Excel_2013Download Excel

Chumbar, um castigo ou uma oportunidade?

Resultados médios a Matemática dos alunos do 9º ano que chumbaram e não chumbaram. Portugal, PISA Matemática 2012

Microsoft_Excel_2013Download Excel

Resultados médios a Matemática dos alunos do 9º ano que chumbaram e não chumbaram. PISA Matemática 2012

Considerando os alunos do 9º ano, os que nunca repetiram têm no geral resultados superiores aos alunos que já repetiram. Exceção para França, onde o contrário acontece. Na República Checa, Suécia, Luxemburgo e Holanda esta diferença é residual. No caso de Portugal, Dinamarca e Finlândia os alunos que nunca repetiram alcançam resultados bastante superiores aos colegas que já repetiram.

Microsoft_Excel_2013Download Excel

Percentagem de alunos que chumbaram por percentagem de alunos que recuperaram. PISA 2012

Em Portugal, dos alunos que já chumbaram, apenas 14% conseguem ter um desempenho de nível 3 ou mais. Isto é, mais de 85% destes alunos permanecem muito atrás dos seus pares a nível da resolução de problemas do dia-a-dia. Este cenário assume depois uma dimensão mais preocupante se nos focarmos na percentagem de alunos que se ficam por níveis de proficiência zero e abaixo de um (que de acordo com a OCDE representam desempenhos de alunos que apenas resolvem problemas óbvios e que não envolvem processos de raciocínio ou de recolha indireta de informação), sendo em Portugal de 21% e 36% respetivamente.

A Holanda apesar de ser um país com forte prática de retenção de alunos, consegue ajudar esses alunos a recuperar o atraso (cerca de 50% destes alunos atinge pelo menos o nível 3). Nos restantes países onde se chumba muito (Portugal, Espanha, França e Luxemburgo) a recuperação é bastante limitada – cerca de 14% em Portugal; França 15%; Espanha 18% e Luxemburgo 25%. A Irlanda também consegue recuperar cerca de 35% dos seus alunos embora chumbe numa percentagem menor. Os restantes países também não recuperam os alunos que ficam retidos, mas a percentagem de alunos que chumbam é realmente baixa, e por isso os efeitos a nível global são menos vincados.

Percentagem de alunos que chumbaram/não chumbaram por nível de proficiência. Portugal, PISA 2012.

Microsoft_Excel_2013Download Excel

Atitudes e perceções de alunos que chumbaram e não chumbaram. Portugal PISA 2012.

 

Diferença dos resultados médios a Matemática entre 2003 e 2012 em alunos que chumbaram / não chumbaram. PISA Matemática 2003-2012

Microsoft_Excel_2013Download Excel

Comportamentos e atitudes face a matemática. Alunos que chumbaram e não chumbaram. PISA 2012.

Microsoft_Excel_2013Download Excel

Expectativa dos pais por ESCS em relação ao nível de escolaridade dos filhos. Portugal, PISA 2012

Alunos com resultados PISA inferiores a nível 3 que chumbaram e não chumbaram. Portugal, PISA Matemática 2012

Microsoft_Excel_2013Download Excel

Quanto custa chumbar?

Custos estimados por aluno/ano (USD) por tipo de intervenção para a melhoria das aprendizagens. Benefícios da intervenção (em meses).

O problema não é o que se gasta mas sim se se gasta da melhor forma. Vários estudos internacionais, realizados em diversos contextos sociais e económicos, têm demonstrado que chumbar um ano é a medida mais cara  e a que menos traz benefícios aos alunos. Em muitos casos consegue-se provar que os alunos em vez de recuperarem aumentam a distância face aos pares, ficando pior preparados para enfrentar os desafios da vida adulta. Várias medidas têm sido adotadas, todas com melhores resultados e a custos mais baixos. Em Portugal, a despesa direta ligada a mais um ano de escola é de cerca de 7000 USD por aluno. A este custo devemos somar o custo indireto que provém de perdas a nível de salários, maior tempo de dependência da segurança social ou com problemas de saúde e outros.

Microsoft_Excel_2013Download Excel